segunda-feira, julho 31, 2006

Raízes da Guerra

Por Brenno Sarques
Guerra dos Seis Dias, ampliação de seu território em 1967, ocupação do Líbano em 1982, incursões armadas em territórios vizinhos, invasão do espaço aéreo de países árabes, bombardeios em Beirute e na Faixa de Gaza. Israel não pára. Muita gente nasceu e vive ouvindo as notícias do Oriente Médio, em sua maioria, de guerra entre judeus e muçulmanos. Entretanto, poucos sabem as origens políticas, étnicas e religiosas desse conflito que parece sempre ter existido, e que não acaba nunca.

Muitos estudiosos jogam a culpa da prepotência judaica no movimento sionista, a mais forte ideologia política israelense. Até mesmo judeus não sionistas creditam o constante clima de tensão e guerra com os árabes ao sionismo. Tanto o é que, no próprio coração de Israel a condenação aos ataques ao Líbano tomou as ruas, em uma manifestação que, segundo os organizadores, reuniu cerca de 5 mil manifestantes na capital Tel Aviv, no sábado, 22 de julho. Segundo o jornal local Haaretz, o protesto teve, além da “exigência de demissão do primeiro-ministro e do ministro da Defesa”, um claro caráter antisionista e antiamericano. Junto às palavras de ordem “nós não vamos matar, nós não vamos morrer em nome do sionismo”, os manifestantes também repetiam “nós não vamos matar, nós não vamos morrer a serviço dos EUA”.

Sionismo
Politicamente fundado em 1897, o sionismo era formado por uma variedade de opiniões sobre em que terra é que a nação judaica deveria ser fundada, sendo cogitado de início estabelecê-la em Chipre, na Argentina e até no Congo, entre outros locais. A chamada diáspora judaica, ou seja a dispersão dos judeus pelo mundo, erroneamente debitada como a expulsão da terra natal, foi o principal argumento de ordem religiosa a reivindicar o estabelecimento da pátria judaica na Palestina.

O argumento da expulsão é contestado até por parte de sionistas, por que não coincide com os registros históricos que dão como certo que, muito antes das deportações romanas, a grande maioria do povo judeu já havia se helenizado e migrado espontaneamente. De qualquer modo, a tese do retorno à “terra prometida” caiu nas graças da maioria dos judeus.

A partir de 1917 o movimento definiu o estabelecimento de um estado na Palestina, a localização do antigo Reino de Israel. Todavia, a região da Palestina já era habitada por uma população de esmagadora maioria de árabe, que migrou para lá por volta do ano de 350 e que perdurou e floresceu por mais de 400 anos durante as dinastias árabes Omanida, Abássida e Fatímida.

Sendo assim, para estabelecer o estado judeu desejado, os sionistas teriam de fazer um grande esforço para mudar o equilíbrio étnico e demográfico da região mesmo porque o projeto do estado judaico se baseava nas utopias religiosas e culturais exclusivas e definidas do povo judeu. Aí é que o problema se agrava.

O começo da crise
É justamente neste esforço para a mudança do equilíbrio demográfico da Palestina que os críticos do sionismo vêem a doutrina como condenável. Não apenas pela violência implementada, mas também pela “distinção racial” em que doutrinariamente se funda, sendo, assim, o sionismo considerado uma forma de racismo.

A professora da Universidade de Brasília, Sonia Bloomfield Ramagem, contesta a ligação entre sionismo e racismo, restringindo o vocábulo ao movimento nacionalista para o estabelecimento de uma nação judaica no mesmo local onde viveram os ancestrais do povo judeu.

Os defensores do sionismo alegam que a doutrina não é unificada e coesa, possuindo diversas versões divergentes umas das outras. Outros discordam afirmando que palestinos e judeus não são racialmente distintos, e assim não se aplicaria o termo ‘racista’.

Enquanto se ateve ao seu objetivo primordial, que era o estabelecimento de uma pátria judaica, o sionismo sempre foi bem visto pelos organismos internacionais, tanto que a Liga das Nações (Mandato de 1922) quanto a ONU aprovaram os princípios básicos do sionismo, aliás extensível a qualquer povo da terra.

Todavia, quando chegou a hora de estabelecer o Estado de Israel, e colocar em prática os ideais sionistas, estes impuseram uma realidade conflituosa e lesiva, tanto que, em novembro de 1975, com a violência transbordando, a Assembléia Geral das Nações Unidas aprovou a resolução nº 3379 que contém uma sonora censura : “O sionismo é uma forma de racismo e discriminação racial” que perdurou até dezembro de 1991 quando, pelo colapso da União Soviética, uma dos seus defensores, acabou rescindida através da Resolução 4686.


O Estado de Israel
Na segunda metade do século XIX, iniciou-se uma migração de retorno de judeus para a região. Assim “Mikveh Israel” foi fundada em 1870 através de Aliança Israelita Universelle, seguida por Petah Tikva (1878), Rishon LeZion (1882), e outras comunidades agrícolas fundadas pelas sociedades Bilu e Hovevei Zion.

Em 1897, o Primeiro Congresso Sionista decidiu restabelecer pátria judia antiga em Eretz Yisrael. Naquele momento, a Palestina era uma parte do Império Turco Otomano. Isto fez o sionismo diferente da maioria dos outros nacionalismos, porque seus proponentes reivindicavam para a etnia um território que, na sua vasta maioria não era por eles habitada.

A Inglaterra apoiou o sionismo com a Declaração de Balfour, colocado em prática porque a rainha possuía o mandato sobre a região do Império Otomano, que havia perdido seus territórios em conseqüência da Primeira Guerra Mundial. Foi o início de um aumento substancial da migração de judeus para lá elevando por duas décadas até 1945.

Em 1947, ao fim do mandato britânico, a violência mútua e descontentamento entre árabes e judeus era gritante. Para reverter tal situação, a ONU propôs e foi aceito um Plano de Partilha da Palestina, para a formação de dois estados, concedendo 55% da terra para o estado judeu e o restante ao estado árabe.

A representação judaica aceitou o plano, mas a representação árabe não. Sentindo-se prejudicada e espoliada, ao não aceitar a divisão, têm início os conflitos. No dia 14 de maio de 1948, expirado o mandato britânico da Palestina, o Estado de Israel declarou independência, deflagrando a chamada Guerra dos seis dias na qual seis estados árabes vizinhos iniciaram movimentos de exércitos regulares para ingressar na região. De lá pra cá, o que vemos é o massacre de árabes sob o pretexto de “guerra santa”, renovado para “guerra contra o terror”.

Recrudescimento
Pelo que parece, os últimos governantes de Israel decidiram pegar pesado com os árabes. Para o respeitado analista político da esquerda israelense, o escritor Michael Warshawski, numa Guerra, a existência de prisioneiros de guerra é natural. No passado, Israel estava aberto à troca de prisioneiros. “Agora a arrogância israelense é tão grande que eles têm reais dificuldades para não fazer o óbvio, que seria soltar prisioneiros palestinos e libaneses em troca dos três soldados israelenses nas mãos do Hezbollah e do comando palestino. De fato, no momento eles estão prontos a sacrificar seus próprios prisioneiros de guerra para não se comprometer com ‘terroristas’”, critica.

Warshawski afirma que o movimento pacifista judeu tem crescido durante esta última incursão do exército israelense no Líbano. “Não mais de 5% da população judia de Israel se opôs à guerra na primeira semana. No entanto, parece que mais e mais pessoas estão se perguntando: por quanto tempo? O que é o objetivo concreto desta guerra? etc”. Para o escritor, o movimento pacifista tem que explicar que esta guerra nada tem a ver com a segurança de Israel ou com os prisioneiros de guerra, e que a sua ideologia é suicida: uma guerra interminável com o Islã e com todo o mundo árabe, o que poderá ser o fim de Israel.

Fontes: Revista Espaço Acadêmico, revista Carta Maior, sites Panorama Internacional e Rádio Islam (http://www.panoramainternacional.com/; www.radioislam.org)

segunda-feira, julho 24, 2006

Em julho, grandes desafios para a ONU



Por Brenno Sarques

A pauta das Nações Unidas para o mês de julho indica como prioridades inadiáveis o tratamento de crises como a do Sudão, a proteção de crianças em conflitos armados e a sucessão de seu secretário geral. A apresentação foi feita por Jean-Marc de la Sablière, embaixador francês e atual presidente do Conselho de Segurança da ONU, em entrevista coletiva dada em Nova York, sobre seu programa de trabalho.

Três candidatos estão no páreo para suceder o atual secretário geral, Kofi Annan: o vice-primeiro ministro da Tailândia, Surakiart Sathirathai, o secretário geral adjunto de comunicação das Nações Unidas, o indiano Shashi Tharoor e o embaixador do Sri-Lanka nos Estados-Unidos, Jayantha Dhanapala.

“Nós progredimos na organização das formas de eleições. Nós já compreendemos o princípio de um voto em branco como ocorreu em pleitos anteriores”, garantiu Jean-Marc. O embaixador indicou que um voto em branco está previsto para a rodada da segunda quinzena de julho.

De toda forma, votos brancos não são eliminatórios, mas têm um valor indicativo. “É por isso que cada delegação terá que dizer se há ou não uma opinião sobre os candidatos, o que pode encorajá-los, ou desencorajá-los”, completa Sablière.

Os votos brancos dão a medida do apoio que cada candidato possui. Depois de mensurar a força do apoio que detém, o candidato pode vislumbrar as conseqüências. Os votos em branco facilitam a formação de um acordo no Conselho de Segurança e evitam o bloqueio da pauta. O Conselho espera chegar a uma decisão final até setembro.

Crianças

A proteção de crianças em conflitos armados é a segunda prioridade do Conselho de Segurança, neste mês. O Ministro das Relações Exteriores da França, Philippe Douste-Blazy, chegou em Nova York, dia 24 de julho, para uma reunião sobre este problema.

A necessidade de proteger crianças dos conflitos armados se faz ainda maior quando se constata que os pequenos são, por exemplo, metade das vítimas libanesas na esmagadora ação israelense sobre o Líbano. Uma declaração será adotada no final da reunião que permitirá traçar uma linha sobre o funcionamento do grupo de trabalho do Conselho sobre o drama das crianças nas guerras.

“A França teve a iniciativa da resolução 1612, de 26 de julho de 2005, que colocou sobre a mesa um mecanismo de vigilância e que adotou o princípio do Grupo de Trabalho no Conselho de Segurança”, afirmou o embaixador francês. Na verdade, esta foi uma proposta feita pelo Benin, em 23 de Fevereiro de 2005, durante a sua presidência do Conselho de Segurança.

Através desta resolução, o Conselho de Segurança das Nações Unidas pede a implementação de um mecanismo para controlar o recrutamento e o emprego das crianças soldados. No quadro da implementação de um plano de ação de combate a este fenômeno, o Conselho de Segurança pediu ao Secretário-Geral da ONU a criação o mais rapidamente possível desse mecanismo que funcionará com a participação e a cooperação dos governos, dos atores membros da ONU e da sociedade civil.

O grupo de trabalho do Conselho é integrado por todos os seus membros e estará encarregado de examinar os relatórios do mecanismo assim como os progressos alcançados na elaboração e na execução do plano de ação. Este é o resultado dos esforços para colocar termo aos problemas das crianças nos conflitos armados.

Crises

A terceira prioridade são as crises pelo mundo. Sobre o conflito no Sudão, o Conselho de Segurança trabalha pela sucessão da União Africana (UA) para as Nações Unidas, assim que a UA terminar sua missão. A força de paz da União Africana conta com 7000 soldados, mas os massacres continuam, e os recursos das tropas são escassos.

“As Nações Unidas se engajaram em um diálogo com o governo de Darfur. Acreditamos que o diálogo deve continuar”, lembrou o representante da França. O Conselho acredita que, em breve, conseguirá o consentimento do governo sudanês, sobre a necessidade de uma força das Nações Unidas. “A própria União Africana fez o pedido das tropas em 10 de março”, completou Douste-Blazy, lembrando que a UA mantém uma força de paz na região, mas quer que a ONU se ocupe do caso.

A União Africana decidiu manter sua missão no Sudão até o fim do ano. O secretário geral adjunto para operações de paz, Jean-Marie Guéhenno, esperava enviar uma missão de paz em janeiro, que comportava três brigadas, cada uma contendo de três a cinco batalhões. Jean-Marie e Kofi Annan devem apresentar ao Conselho de Segurança, no início de agosto, suas discussões com o presidente sudanês Omar el-Béchir, em Banjul na Gâmbia.

O francês acrescentou que o conflito em Darfur está transbordando suas fronteiras e começa a atingir o Tchad. Lá, já se encontram mais de 200 mil refugiados do conflito no país vizinho. Kofi Annan se diz preocupado com a situação dos campos de refugiados. Para ele, os campos podem se tornar “viveiros de rebeldes”.

O presidente do Tchad, Idriss Deby, também se mostra preocupado: “Os campos de refugiados são politizados. Os trbalhadores humanitários têm sido ameaçados”, condena. Ele pede um debate no Conselho de Segurança sobre o caso. A data ainda está indefinida. De toda forma, o pedido de ajuda internacional já foi feito. O conflito no Sudão fez com que o país ganhasse o título de pior lugar do mundo para se viver. Desde 2003, o conflito já fez mais de 300 mil mortos e 2 milhões de refugiados.

Fontes: Centre de Nouvelles ONU e Panapress.

segunda-feira, julho 17, 2006

Israel e Líbano: Focos da discórdia


Por Brenno Sarques


Todos os esforços, as negociações e a esperança de grande parte da população mundial em um cessar-fogo definitivo no Oriente Médio parecem ter ido por água abaixo. Israel, em sua sanha de controle total na região, passa a atacar desproporcionalmente o Líbano, atingindo diretamente a capital Beirute e fazendo vítimas completamente inocentes.

Até agora, são mais de 170 civis mortos no Líbano, vítimas diretas da truculência israelense. Deste total, uma família de brasileiros que simplesmente visitava o país atacado, não vai mais voltar para casa. Há também sete canadenses mortos por mísseis judeus.

Tudo começou com o seqüestro do soldado israelense Gilad Shalit, em 25 de junho, pelos Comitês Populares da Resistência, o braço armado do Hamas e um grupo denominado Exército Islâmico. O Hamas, grupo terrorista que, por incrível que pareça, foi eleito democraticamente para governar a Palestina (não se espante, fatos como este já ocorreram por exemplo, em Moçambique, onde grupos armados, saíram da guerrilha e se tornaram partidos políticos. O mesmo acontece na Europa, com o IRA), afirmou que a única forma para a libertação do soldado é a troca por prisioneiros palestinos.

Não deu outra, a retaliação judaica foi uma chuva de bombas sobre a Faixa de Gaza, o que resultou na morte de dezenas de civis palestinos. A chuva continua, e o número de vítimas aumenta. Israel esquece que está cercado de muçulmanos, povo tão unido pela religião quanto os próprios judeus. Não tardou para que o Hezbollah, grupo armado libanês, entrasse na causa e seqüestrasse mais dois soldados de Israel.

Demonstração de Força

Após o seqüestro de mais dois soldados, a primeira ação do primeiro ministro israelense Ehud Olmert foi enviar seis mil homens para a fronteira com o Líbano, no norte de Israel. Logo que chegaram, um intenso combate com as forças do Hezbollah tomou conta do lugar. Daí para frente, o que se vê são mísseis israelenses voando para um lado, e foguetes libaneses para o outro.

Atacar o Líbano não é tão fácil quanto atacar a Faixa de Gaza. A situação econômica e militar libanesa é, de longe, melhor do que a Palestina, que não se constitui como um Estado de fato, apenas de direito. Daí a força demonstrada pelo Hezbollah, com o lançamento de dezenas de foguetes sobre a cidade de Haifa e a morte de judeus. Outro ponto que pode complicar os planos israelenses é o apoio que o Irã e a Síria oferecem a qualquer grupo contrário à causa judia, mesmo que não haja provas do envolvimento destes dois países no conflito. De toda forma, o poderio bélico israelense é largamente maior do que de todos os países islâmicos. Vale lembrar que Israel possui a bomba atômica, e, com certeza, podem usá-la caso os muçulmanos se unam na Jihad islâmica, a “guerra santa”.

O mundo está atento

A comunidade internacional não concorda com o seqüestro dos soldados judeus, mas repudia claramente a violenta resposta dada por Israel. Os seqüestros são atos exclusivamente militares, e Israel respondeu com ataques diretos às populações civis, que não tinham como se defender, tampouco esperavam que mísseis caíssem sobre suas cabeças. Israel acaba de cometer mais um crime de guerra que, pelo que tudo indica, vai passar impunemente.

O Conselho de Segurança da ONU tentou aprovar medidas para um cessar-fogo, mas, como sempre, os Estados-Unidos vetaram. Os red-necks sempre alegam que Israel está apenas “cumprindo seu direito de defesa”. O primeiro-ministro libanês, Fouad Siniora, foi claro ao afirmar que “Israel acusa os outros de terrorismo, mas faz prática de métodos ainda piores”. Siniora cita, por exemplo, a constante violação do espaço aéreo libanês pelos caças sionistas. Há também a ocupação das fazendas de Chebaa, território de 45km2 ao sul do Líbano, que continua a ser ocupado por judeus. O resultado é que as ações do Hezbollah são aprovadas pela maioria dos libaneses, que já não suportam mais serem invadidos sem poder se defender.

Em uma resolução adotada pelos ministros das relações exteriores dos países que compõem a Liga Árabe, consta “o apoio ao Líbano face à agressão”. Conforme o entendimento dos diplomatas, reunidos no Cairo, dia 15 de julho, Israel deve compensar o Líbano pelos danos causados. Os países árabes querem um cessar-fogo imediato e a determinação do governo libanês em respeitar as determinações da ONU e a ‘linha azul’ território que marca a fronteira entre os dois países em conflito.

Em outra resolução, a Liga denunciou os “crimes de guerra e os crimes contra a humanidade”, cometidos em Gaza. A Arábia Saudita, Jordânia, Egito, Kuwait, Bahreim, Iraque e Marrocos criticaram o seqüestro dos soldados pelo Hezbollah. Posição contrária à da Síria, Argélia, Sudão, Iêmen e Palestina, que aprovam a ação contra Israel.

A reunião do G8, em São Petersburgo, teve como um de seus pontos principais o conflito israelo-libanês. Os oito países mais poderosos do mundo afirmam que a “prioridade é criar condições para o fim da violência de uma maneira durável”. Para tal, faz-se necessário a liberação dos soldados judeus seqüestrados tanto em Gaza quanto no Líbano; o fim dos foguetes sobre Israel; o fim das operações militares israelenses e o recuo das tropas da Faixa de Gaza e a libertação dos ministros e deputados palestinos presos em Israel.

Proposta de Paz

Israel apresentou ao Líbano uma proposta para o fim das operações militares israelenses no território libanês. A proposta foi feita por intermédio da Itália, mas o governo libanês ainda não deu sua resposta. O ministro da Informação libanês, Ghazi al-Aridi, informou ontem que esta proposta tem duas condições: que o Hezbollah liberte os dois soldados israelenses capturados na quarta-feira passada e que recue suas milícias até o norte do rio Litani, acima das fazendas de Chebaa, no sudeste do Líbano.

Em entrevista coletiva após a reunião do governo libanês, Aridi não explicou se o governo tinha aceitado ou não as condições impostas pelo primeiro-ministro israelense, Ehud Olmert. Aridi disse que espera uma posição da ONU a respeito da situação. Além disso, ele acusou Israel de lançar uma “guerra genocida” contra o povo libanês e acrescentou que o Exército israelense está empregando “armas internacionalmente proibidas”, em alusão às bombas de fósforo que, segundo a imprensa libanesa, teriam sido lançadas ontem no sul do país.

O conselho de ministros do Líbano pediu que as escolas de todo o país sejam abertas para receber os refugiados que deixam as áreas bombardeadas por Israel. Aridi pediu às ONG’s que assumam sua responsabilidade “para aliviar o sofrimento do povo” e insistiu em que o governo central é o máximo responsável do país e quem negocia qualquer tema. O ministro louvou o papel do Exército libanês ao fazer frente às forças israelenses e convocou uma união nacional para enfrentar a situação que o país atravessa.

A ONU se prepara para o envio de uma força internacional ao sul do Líbano. O secretário-Geral das Nações Unidas, Kofi Annan, pediu uma trégua nos conflitos para que as forças de paz possam se instalar na região. “Nós devemos obter das partes envolvidas um acordo, o mais rápido possível, sobre o fim das hostilidades, para que tenhamos tempo e possamos trabalhar”, declarou Annan.

Conforme o primeiro-ministro britânico Tony Blair, as forças de estabilização da Onu devem contar com mais de 2000 homens. Para o seu homólogo italiano, Hermano Prodi, que já foi presidente da União Européia, a ONU deve enviar cerca de 8000 soldados. O presidente francês Jaques Chirac acredita que as forças da ONU tem mecanismos de coerção que devem ser usados para criar um “cordão de vigilância” no sul do Líbano.

Aos seres humanos, resta aguardar os próximos acontecimentos e atentar para quais ações os governantes mundiais vão tomar. Pelo que tudo indica o conflito no Oriente Médio está a cada dia mais longe do fim.

Fontes: Radio France Internationale, Agência EFE, Agência France-Presse, Le Monde e JB.

segunda-feira, julho 10, 2006

Índia testa míssil nuclear de longa distância. China é alvo potencial



Por Brenno Sarques

A Índia testou seu míssil nuclear de longo alcance no domingo, 9 de julho. Mesmo com o lançamento do míssil, o sucesso do teste era incerto; o último relatório aponta que o míssil falhou em algum ponto de seu vôo. O lançamento ocorreu em menos de uma semana após os testes da Coréia do Norte com mísseis de longo alcance, suscitando tensão internacional, em 4 de julho.

Enquanto isso, o Congresso dos Estados Unidos se engaja na aprovação de um pacto nuclear civil, que a administração de Bush negocia com o Índia. Uma vez que o pacto não abrange testes com mísseis ou outra atividade militar, a administração de Bush sofre críticas por não firmar nenhum compromisso com a Índia para frear a produção de novos combustíveis nucleares, ou para restringir sua produção de armas.

O teste do míssil de Agni 3 (fogo em Hindu) parece mostrar que o arsenal estratégico da Índia poderia ultrapassar o Paquistão e cobrir o território da China. O míssil alcança mais de 1.800 milhas. O Ministério da Defesa da Índia disse que o míssil tinha sido lançado do console da Ilha Wheeler, fora da costa do estado de Orissa na baía de Bengal, e tinha decolado com sucesso. Mais tarde, a confiança da imprensa na agência de notícias da Índia encontrou um oficial militar não identificado que afirma que o míssil tinha desenvolvido problemas, provavelmente no acendimento de seu segundo estágio, e não tinha terminado o teste com sucesso.

Um porta-voz do Ministério da Defesa, Sitanshu Kar, não comentou no relatório nada além de que "o míssil decolou com sucesso, e o restante das informações precisa ser analisado, o que, em um dia ou dois, tirarmos uma conclusão". Índia e Paquistão têm feito negociações freqüentes sobre mísseis e testes nucleares nas épocas da tensão entre eles. Mas as relações entre as nações têm melhorado ultimamente, e os governos têm um acordo de informarem-se antes de tais testes. No domingo, o Ministério das Relações Exteriores paquistanês confirmou que Índia o tinha avisado antecipadamente sobre o teste.

Quando os mísseis de curto alcance forem suficientes para manter Índia e Paquistão em paz forçada, os analistas vêem na Índia o desenvolvimento de mísseis balísticos de longo alcance, e a continuidade de seu programa de armas nucleares, como uma etapa estratégica para manter China alerta. A escala listada do Agni 3, centenas das milhas mais abrangente do que todos os outros mísseis que a Índia testou, colocou outras das principais cidades da China dentro de do raio de alcance do míssil. Nos dois últimos anos, as tensões entre Índia e China esfriaram consideravelmente, o comércio reabriu, semana passada, na fronteira ao longo da histórica estrada de seda através dos Himalaias, pela primeira vez desde que entraram em conflito há 44 anos.

A BBC de Londres relatou que, antes do teste de domingo, Índia protelou por duas vezes os testes no Agni 3, uma vez por razões técnicas e uma vez por causa do interesse sobre a repercussão internacional, quando a Índia ainda tentava selar seu pacto nuclear civil com a administração de Bush. Em maio, o ministro indiano da defesa, Pranab Mukherjee, afirmou que o míssil estava pronto, mas que a Índia obedecia a uma "auto-censura" antes de testá-lo.

O pacto nuclear entre Índia e os Estados Unidos está sob revisão do Congresso estadunidense e, de fato, removeria todas as limitações norte-americanas no comércio nuclear com a Índia, porque esta se recusou a assinar o tratado de não-proliferação nuclear. Neste pacto os EUA oferecem ajuda ao programa nuclear indiano, incluindo o urânio para o combustível de reatores civis. Os Estados Unidos não forneceriam nenhum combustível para armas da Índia, mas os críticos indicaram que as limitadas fontes de urânio indianas para a produção das armas seriam liberadas.

O acordo não contém nenhuma limitação em quanto tempo ou como a Índia poderia aumentar o tamanho de seu arsenal nuclear. O únicos outros países que também recusaram-se a assinar o tratado são Israel e Paquistão. A Coréia do Norte retirou-se do tratado há três anos.

Dois pesos, duas medidas

Enquanto a Índia tem sinal verde para realizar testes com armas de longo alcance e desenvolver seu programa nuclear, a Coréia do Norte se vê a cada dia mais pressionada pela comunidade internacional a estancar seu projeto militar. Os testes realizados em 4 de julho, comandados por Kim Jong-il, causaram novos abalos diplomáticos. Os Estados-Unidos tentam convencer a China a votar em favor das restrições ao governo comunista propostas pelo Japão no Conselho de Segurança da ONU. A França e a Grã-Bretanha também apóiam as restrições contra Pyongyang.

O embaixador norte-americano Christopher Hill afirma que o projeto japonês não é viável. O texto proíbe qualquer exportação e financiamento à Coréia do Norte de "produtos, materiais e tecnologias" ligados à construção de mísseis. A lista é bastante vaga para surtir efeito em uma economia de um país já arruinado.

A estratégia norte-americana parece tentar atingir a China, país que oferece o maior risco à hegemonia dos yankees. Se a Índia testa mísseis e desenvolve seu programa nuclear, para um possível conflito armado contra a China, tudo bem para a América do Norte. Agora, se a Coréia do Norte faz o mesmo, a conversa é diferente. Os Estados Unidos fazem pressão sobre a China para não vetar a proposta de sanções apresentada pelo Japão. Pequim não é inimigo da Coréia do Norte, pelo contrário, não há porque aprovar sanções contra seu parceiro comunista.

A China sabe das intenções de Bush, em livrar seus parceiros orientais do perigo, como o Japão e a Coréia do Sul, e jogar seus concorrentes na fogueira. Vamos esperar até que novos testes com armas nucleares e de longo alcance sejam feitos para que se chegue a um entendimento sobre quem pode e quem não pode ameaçar, ou ser ameaçado.

Fontes: The New York Times, Le Figaro

segunda-feira, julho 03, 2006

A democracia da informação na América Latina ainda é um sonho

Por Brenno Sarques

Durante a XXXVI Assembléia-Geral da OEA, em São Domingos, na República Dominicana, os ministros anunciaram na sua declaração final a determinação de garantir "o direito de todos à liberdade de expressão através de todos os meios de comunicação de massa, inclusive a internet".

O lema da Assembléia, que terminou dia 5 de junho de 2006, foi "Governabilidade e desenvolvimento na sociedade do conhecimento". Nas sessões plenárias, os ministros deixaram claro o interesse em trabalhar para reduzir o desnível tecnológico na região.

Todos ratificaram a intenção de facilitar o "acesso universal às tecnologias da informação e comunicação". Outro compromisso foi o de melhorar e ampliar as iniciativas para reduzir as desigualdades e a pobreza, usando as novas técnicas como "ferramentas de desenvolvimento".

O chanceler da República Dominicana e presidente da reunião, Carlos Morales Troncoso, ressaltou na sessão de encerramento o "compromisso continental" de alcançar a meta através de um caminho que todos os países "podem e devem percorrer juntos".

Presença brasileira

O Ministro das Relações Exteriores do Brasil, Embaixador Celso Amorim, discursou durante a reunião da OEA. Para o chanceler brasileiro, as negociações com seus parceiros dominicanos traduziram a confiança mútua entre os países.

Inspirado pelas palavras do Ministro chileno, Amorim enfatizou a importância dos aspectos sociais das desigualdades da região latino-americana. “Eu me lembro de ter lido, quinze anos atrás, um artigo de um compatriota chileno da Cepal, em que comparava vários modelos de crescimento econômico, como o da Coréia: muita inversão em ciência e tecnologia”. O Ministro brasileiro chamou a atenção para que havia três tipos de países, num quadrilátero na América Latina. Aqueles que haviam tido rápido crescimento, e baixa eqüidade (ex. Brasil), aqueles que tinham tido razoável eqüidade, mas baixo crescimento (ex. Uruguai); e outros, como era o caso da maioria, que haviam tido baixo crescimento e baixa eqüidade. Mas na matriz, havia um quadrado vazio, que era o quadrado do crescimento com eqüidade.

A partir disso, Celso acredita que, talvez, quando se olha para outros continentes e procura-se saber quais as razões porque estamos atrasados em alguns aspectos, talvez a principal razão tenha sido que a América Latina nunca foi capaz de vencer esse desafio do crescimento com eqüidade. “Tivemos momentos de crescimento sem eqüidade, tivemos períodos de eqüidade sem crescimento. O nosso grande desafio é o crescimento com eqüidade. E é isso que vai tornar possível, também, o desenvolvimento científico e tecnológico, a compreensão maior de que é preciso poupar para investir naquelas coisas que podem trazer benefícios no futuro”, ressaltou. O chanceler brasileiro insistiu que esse é o grande desafio na região. Por isso, elogiou especialmente o colega chileno e afirmou procurar seguir os seus passos.

Conforme o chanceler chileno Alejandro Foxley, a justiça social não se realizará só no plano nacional, mas também no plano internacional. Amorim concorda e acredita que a referência ao G-20 é mais do que apropriada, pois o que o grupo dos 20 países em desenvolvimento procura, dentro das negociações comerciais que se realizam em Doha, é juntar a liberalização comercial, que é importante, com a justiça social. A força que o G-20 possui, sobretudo com outros grupos, também de países em desenvolvimento, foi juntar esses dois aspectos importantes e que normalmente estiveram dissociados nas negociações internacionais: a liberalização e a justiça.

“Obviamente o tema desta Conferência é a brecha digital. E a brecha digital não é senão um aspecto dessa brecha social enorme. As pessoas não têm acesso a computadores, não têm acesso à internet, porque não têm renda. E, por isso, a brecha aumenta”, escancarou o chanceler brasileiro. Para ele, o trabalho deve aproveitar aquilo que já pode ser reunido. Trocar experiências entre os países sul-americanos para fazer com que a inclusão digital passe também a ser fator de inclusão social é o caminho a ser seguido. A inclusão social é importante não só porque dá acesso ao conhecimento; ela permite ao cidadão fiscalizar diretamente o que fazem os governos, dá maior transparência às ações governamentais e permite a sociedade saber com precisão como se dão os resultados das eleições.

Nesse processo, o Brasil está profundamente empenhado internamente, mas também se esforça em difundir o conhecimento produzido em seu território, seja bilateralmente, seja com o concurso da OEA. A cooperação internacional pode ajudar países como, por exemplo, o Haiti, onde vários países latino-americanos estão profundamente envolvidos em fazer com que o Haiti tenha uma real possibilidade de se libertar dos problemas do seu passado e enfrentar o futuro.

Celso Amorim reitera que aspecto da governabilidade, é essencial. “Estamos prontos a ajudar o Haiti. Como manifestamos ao chanceler da Bolívia, David Choquehuanca, estamos prontos a ajudar a Bolívia também e outros países nas questões de governabilidade, que são talvez as questões centrais, sem as quais não conseguiremos avançar o suficiente”, oferece.

Eleições

Durante o discurso do representante brasileiro no encontro em São Domingos, o Peru foi elogiado pelas eleições que se realizaram em clima de total liberdade, assim como parabenizou todos os países que também tiveram eleições recentemente, sobretudo eleições gerais, como é o caso da Colômbia, aprofundando mudanças sociais que o Presidente Uribe começou, e, em outros casos, com mudanças de natureza mais profunda, diga-se Bolívia.

A Organização dos Estados Americanos é considerada por Celso Amorim “sui generis”, porque possui grande heterogeneidade. A OEA tem dois países super-desenvolvidos, alguns em desenvolvimento médio e outros pouco desenvolvidos. Mesmo assim, tem conseguido, ao longo de quase um século de existência, manter uma unidade. A manutenção desta unidade não tem sido fácil. “Ver o cisco no olho vizinho é mais fácil do que ver a trave no seu próprio olho”, resume Amorim. A próxima reunião anual da Assembléia será no Panamá.

Fontes: Ministério das Relações Exteriores do Brasil e Organização dos Estados Americanos (OEA).