quarta-feira, setembro 06, 2006

A Somália cada vez mais faminta

Por Brenno Sarques

Mais uma vez a Somália atrai os olhares do mundo. Infelizmente os motivos do ganho de visibilidade internacional são os mesmos que chocaram a opinião pública mundial, no início da década de 90: a fome e a guerra. Conforme o relatório da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), até o fim deste ano, cerca de 2,1 milhão de pessoas vão precisar de ajuda alimentar e humanitária na Somália, caso continue a escassez de chuvas e o agravamento da tensão militar no centro e no sul do país.

O relatório da FAO sobre a Somália publicado em Roma, no dia 27 de julho deste ano, não deixa dúvidas sobre a gravidade do caso. Na região meridional do país, encontra-se 1,1 milhão de pessoas na penúria alimentar. Em algumas regiões como a Gedo e no baixo e médio Juba, mais de 20% da população sofre de má-nutrição.

Além do problema alimentar, a guerra civil - ou tribal, se preferirem - obrigou mais de 400 mil pessoas a fugir de seus lares, agravando ainda mais o contexto sócio-econômico do país.

Esta é a terceira vez consecutiva que, por falta de chuvas entre abril e junho, a colheita de cereais será insuficiente. Em algumas regiões afetadas pela seca, principalmente no sul do país, a segurança alimentar de mais de 2 milhões de pessoas está ameaçada.


Guerra
A região de Baidoa, na parte central do país, é a maior produtora de grãos da Somália. É lá onde se encontra a escalada do conflito armado, que já vitimou e expulsou milhares de pessoas. Qualquer interrupção das atividades em Baidoa causará o aumento da crise humanitária já instalada.

“Nós observamos a situação bem de perto”, afirma o responsável pelo Sistema Mundial de Informação e Alerta Rápido (Smiar), Henri Josserand. Ele declara ainda que “a Somália está em plena crise. Um agravamento da tensão entre as facções armadas e o conflito militar seria desastroso”.


Comida cara
Seguindo a lei da oferta e da procura, os preços dos alimentos que compõem a “cesta básica” somali subiram 30% desde o final de 2005, na maioria dos mercados do sul do país. Supervalorizados, esses alimentos estão fora do poder aquisitivo da maioria da população.

As pesquisas nutricionais recentes indicam um crescimento do número de mal nutridos subiu de 16,2% para 23,8%, e o índice de pessoas com má nutrição grave subiu de 3,7% para 4,2%.

"...são necessários 37 milhões de dólares
para ajudar cerca de 1,1 milhão
de pessoas até julho de 2007."

Luz no estômago
Pela primeira vez em dez anos, um navio fretado pelo Programa Alimentar Mundial (PAM) desembarca na Somália. O navio, carregado com 3300 toneladas de alimentos, chegou no domingo, dia 3 de setembro, e atracou no porto de Mogadíscio. Este é um novo ponto de entrada de alimentos por via marítima, conforme afirma o diretor do PAM para a Somália, Leo van der Velden, em um comunicado publicado dia 4, em Mogadiscio.

“A reabertura do porto facilita nosso acesso a um milhão de pessoas que dependem de nossa ajuda. Isso representa um avanço para alcançar a paz e a estabilidade na Somália”, declarou der Velden.

Ao todo, o navio continha 2400 toneladas de cereais, 780 toneladas de grãos, 90 toneladas de alimentos enriquecidos e 30 toneladas de óleo vegetal. Os alimentos seguem para o sul do país, principalmente para as regiões de Bay e Bakool, as mais afetadas pela seca.


O porto
Em 1995, o porto de Mogadiscio foi fechado devido aos combates de diferentes grupos armados. O local permaneceu fechado até que a União dos Tribunais Islâmicos assumiu o controle da capital, em junho deste ano. O porto só foi reaberto em agosto.

Leo Van der Velden indica que uma onda de ataques piratas nas águas somalis forçaram o PAM a redirecionar sua ajuda para fora da rota das regiões mais afetadas pela seca, uma vez que as empresas marítimas se recusaram a assumir o risco. O PAM afirma que são necessários 37 milhões de dólares para ajudar cerca de 1,1 milhão de pessoas até julho de 2007.


Negociações
Os negociadores entre o governo de transição e a União dos Tribunais Islâmicos se encontram em Khartoum, capital do Sudão, conforme afirma o representante especial de Kofi Annan, François Lonseny Fall. As delegações realizaram a segunda rodada de negociações, entre os dias 2 e 4 de setembro.

O acordo firmado prevê a formação de um exército nacional e de uma força policial que integraria as milícias islâmicas, milícias locais e o governo de transição. Os negociadores também se engajaram em não se rearmarem, nem entrarem em combate, além de aplicar o acordo instaurado em 22 de junho, que prevê um reconhecimento mútuo e o fim das hostilidades. O secretário geral da ONU, Kofi Annam, felicitou o resultado da rodada de negociações.

Tanto o governo de transição quanto a União Islâmica querem “coexistir pacificamente com os países vizinhos e exigir respeito deles, quanto à soberania do território somali. Depois de tomarem a capital Mogadiscio, em junho, a União Islâmica se volta para o Sul da Somália, ameaçando a cidade Baidoa.

Fontes: ONU, FAO, BBC e AFP

2 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Parabéns pelo texto!!
A fome alarmante que atinge os países mais pobres da África é um fato conhecido mundialmente, mas às vezes as pessoas se "acostumam" com ele...
Seu texto nos faz acordar e perceber que esse não é "apenas mais um problema mundial"...

5:04 PM

 
Blogger Brenno Sarques said...

Obrigado!
As falácias do mundo vão muito além do Oriente Médio...

9:11 AM

 

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