quinta-feira, outubro 26, 2006

Uma outra história de guerra


Brenno Sarques

Existem pessoas que passam a vida em completo anonimato, outras deixam um legado, uma lição, e se tornam imortais. Tive a oportunidade de ficar cara a cara com um desses personagens que fazem a diferença no mundo. Enquanto milhões de pessoas se matavam durante a Segunda Guerra Mundial, Arthur Howe tomou uma atitude diferente: foi para a guerra não para matar, mas para salvar vidas. Médico? Enfermeiro? Não, Howe era motorista de ambulância.

Durante a primavera de 1940, aos 19 anos, o então jovem universitário, nascido em Connecticut, nos Estados Unidos, alistou-se para ser voluntário do American Field Service (AFS), grupo de motoristas norte-americanos que, durante a Primeira Guerra Mundial foram à Europa para ajudar os franceses. Em 1939, o AFS recebeu um novo chamado de Paris para retornar aos campos de batalha.

Um grupo de soldados franceses havia escapado da invasão alemã e se refugiou na Inglaterra. Lá, eles formaram o Exército Francês Livre (Free French Army), sob o comando do general Charles de Gaulle. Eles passaram a integrar o 8° Exército Britânico e seguiram para a África. Em 1941, cinqüenta voluntários com suas ambulâncias partiram rumo ao Egito, para dar suporte aos britânicos.

África
O oceano Atlântico estava invadido por navios alemães. Para evitar o encontro no mar, os voluntários passaram 65 dias descendo a costa da América do Sul, passando pelo Cabo da Boa Esperança, na África do Sul e depois subindo a costa leste africana até atingir o Egito. De lá, Arthur e seus companheiros seguiram para a Síria, Líbano e Palestina. A tarefa do 8° Exército Britânico era impedir que as tropas do Eixo chegassem às reservas de petróleo no Oriente Médio.

No início de 1942, o palco de batalha era a cidade de Zahle, no Líbano. Foram três meses no front juntamente com o exército da Nova Zelândia. Em seguida, os AFSers (como eram chamados os motoristas) foram para Tobruk, na Líbia, onde uma divisão do exército australiano estava cercado pelos alemães. A única forma de entrar era pelo mar. A divisão australiana estava encurralada pelo exército de Hitler e precisava de suporte dos ingleses. Às 5:20h da manhã de 20 de junho de 1942, o Afrika Korps alemão atacou a cidade. Em dois dias, Tobruk estava nas mãos de Berlim. Neste ataque, doze motoristas voluntários foram mortos, Arthur estava lá, mas conseguiu escapar.

Passado o pesadelo de Tobruk, o objetivo era recuperar a cidade de El Alamein, última linha de defesa dos campos de petróleo. “Durante a viagem à El Alamein, os médicos tinham que decidir, entre os feridos, quem ainda deveria receber socorro e quem estava fadado a morrer. Os que não tinham mais salvação recebiam uma injeção de morfina para aliviar a dor e morrer em paz”, conta. A batalha de El Alamein foi o prelúdio do fracasso nazista na África. Os alemães e italianos preparavam-se para atacar Alexandria, mas foram surpreendidos pelas tropas inglesas. Contrariando as ordens de Hitler, de resistir até o último soldado, o marechal Erwin Rommel partiu em fuga com seus 250 mil homens rumo à Tunísia. Lá, foram capturados pelos norte-americanos.

Era hora de recuperar a cidade tomada pelos alemães. Foi quando o General Bernard Montgomery passou a comandar o 8° Exército. Em outubro de 1942, deu-se início a 12 dias de batalhas face-to-face, onde Arthur e seu grupo iam ao front para socorrer os feridos e levá-los para junto dos médicos. “Foram doze dias sem dormir, com pouca comida e muitas bombas sobre nossas cabeças”, lembra Howe. Ao final da batalha, Tobruk estava novamente sob o comando dos aliados.

No natal de 1942, as tropas do 8° Exército e os AFSers liderados por Howe seguiram para Trípoli, capital da Líbia. De lá partiriam para Tunis, capital da Tunísia, onde encontrariam o exército norte-americano em mais uma batalha.

As condições climáticas no deserto eram particularmente horríveis: altas temperaturas durante o dia, frio à noite e intensas tempestades de areia. Nesse período, Arthur comandava um grupo de 120 ambulâncias: “tínhamos que trocar o óleo das ambulâncias a cada dois dias. Quando chegamos em Trípoli, tivemos que trocar todos os motores de nossos veículos”, recorda.

A cidade de Tunis estava dominada por alemães e italianos. As forças norte-americanas avançavam pelo oeste da África, enquanto os ingleses pressionavam pelo leste do continente. A capital da Tunísia era um dos últimos focos de resistência de Hitler e Mussolini. Nesta altura da guerra, as tropas italianas se encontravam enfraquecidas, faltava combustível para os tanques e caminhões, mas as forças alemãs ainda estavam em boas condições de batalha.

Finalmente conquistada, os aliados permaneceram em Tunis, preparando-se para o próximo passo: invadir a Itália. A surpresa ao desembarcar em solo romano, foi deparar-se com o esgotamento das forças militares fascistas. A resistência era feita por alemães, ou mesmo por civis italianos.

O Fim
Para Howe, o pior da guerra ainda estava por vir. O maior sofrimento não foi o ferimento que sofrera na África, nem os traumas de tantas mortes e destruição enfrentados durante todo o período em que socorreu feridos. Ao chegar perto de Monte Castelo (lá, onde estavam os ‘pracinhas’ brasileiros), as tropas aliadas ocuparam um campo de pouso, cercado por prédios de oito andares, todos muito danificados. “Não havia como ocupar os andares superiores, mas podíamos nos abrigar nos inferiores”, afirma Arthur.

Era a época do inverno italiano. Chovia muito e o frio era intenso. Foi quando um grupo de civis italianos aproximou-se das tropas: “havia muitos idosos, mulheres e crianças, eles estavam andando há cerca de seis dias, estavam famintos e ao relento”, recorda. Mas a guerra não conhece a compaixão, e Howe tinha ordens para não deixar ninguém entrar nos prédios, a não ser suas tropas. “Tive que impedir aquelas pessoas de receberem abrigo, e elas tiveram que partir debaixo de uma forte chuva. Foi o pior dia que passei em toda a guerra”, emociona-se ao lembrar.

A última tarefa realizada por Arthur foi limpar um campo de prisioneiros construído pelos italianos. Havia uma montanha com mais de quatro metros de altura somente com sapatos dos prisioneiros assassinados. Depois de tanto tempo vivenciando os horrores da guerra, isso não causava mais nenhum impacto.

Terminada a guerra, o AFS tornou-se a maior instituição de intercâmbio entre estudantes no mundo. A missão ainda é garantir a paz, agora por meio da educação e da tolerância entre culturas. Milhares de estudantes de 55 nações têm anualmente a possibilidade de viver em uma outra realidade, em um outro país. Talvez esta seja a maior vitória de Howe.

Franceses lutaram entre si

Pouca gente sabe, mas durante a Segunda Grande Guerra, criou-se na cidade de Vichi, na França, uma tropa que nunca foi reconhecida pelos aliados. Os Vichi então passaram a colaborar com os países do Eixo (Alemanha, Itália e Japão), e foram comandados por Pierre Laval e Jean François Darlan. Eles governaram a França enquanto o país estava sob ocupação nazista. Durante a guerra na África, o 8° Exército Britânico, do qual fazia parte o Exército Francês Livre, deparou-se com as tropas Vichi. Não deu outra: soldados franceses lutaram contra seus próprios conterrâneos.

segunda-feira, outubro 09, 2006

Democracia chilena: exemplo para a América Latina?


Por Brenno Sarques
Com os tempos próprios de cada sociedade, o Chile deu um grande passo em busca da democracia, após passar por uma rígida ditadura que, assim como ocorreu em vários outros países latino-americanos, arrancou da população um período riquíssimo da história, um período de prosperidade cultural, em que ideais de igualdade e liberdade estavam em voga. Tudo cortado por uma lâmina cega. O sistema chileno pós ditadura continha ainda resquícios de um governo totalitário, intoleráveis para uma sociedade do século XXI.

Modelo democrático
O Chile teve sua constituição aprovada por plebiscito em 1980. O Presidente é eleito por um período de 4 anos, sem reeleição. Atualmente, quem assume a presidência é Michelle Bachelet, a primeira mulher na história do país a atingir tal cargo.

O Parlamento é composto pelo Senado e pela Câmara de Deputados. São 49 senadores com mandato de 8 anos. Na Câmara dos Deputados são 120 membros eleitos por período de 4 anos, com reeleição. O país conta com os Partidos Políticos - Democracia Cristã, Partido pela Democracia, Partido Socialista, Renovação Nacional, União Democrática Independente, Partido Radical Social-Democrático, União do Centro, Partido Comunista, Aliança Humanista-Verde.

Depois da queda do regime ditatorial de Augusto Pinochet, em 1990, o Chile passou por uma série de reformas constitucionais que removeram do sistema legal as prerrogativas das forças armadas.

Entre as emendas mais importantes aprovadas, em julho de 2005, pelo Senado, destacam-se a eliminação dos cargos de senadores vitalícios, que não exigiam o voto popular; a possibilidade de o presidente da República remover as cúpulas das Forças Armadas e da Polícia; o aumento do Tribunal Constitucional, de sete para dez integrantes, e a retirada do representante das Forças Armadas daquele Tribunal. Outra medida democrática foi a mudança na convocação do Conselho de Segurança Nacional que, a partir de então, só poderia ser feito pelo presidente da República; antes, os comandantes das três forças armadas podiam convocar o Conselho.

O novo Chile
Hoje o Chile desponta como um dos países mais democráticos da América Latina. Conforme o Índice de Participação Cidadã - estudo da Rede Interamericana para a Democracia, realizado em 2004, o país recebeu lugar de destaque entre as oito nações estudadas (Argentina, Brasil, Peru, México, República Dominicana, Costa Rica, Bolívia e, claro, Chile). Em uma escala de 1 a 10, o Chile atingiu 5,5 pontos, enquanto o Brasil restringiu-se a 3,8 pontos. Todavia, no estudo de 2005, o Brasil saltou para 5,1 pontos, enquanto que os chilenos caíram para 4,5 pontos, ficando em terceiro lugar.

No estudo de 2005, o Chile apresentou alta participação popular em atividades de apoio à Educação. Não é por menos: lá, 3,66% do PIB é investido em educação básica, a Argentina disponibiliza 3,65%, e o Brasil, só 2,98%.

Outro destaque do Chile frente aos seus companheiros de América Latina, refere-se aos níveis de corrupção. Conforme o estudo realizado pela revista Foreign Policy, o Chile apresenta os menores índices de corrupção do continente. O governo de Santiago supera países como Itália, Portugal, Espanha, Grécia e Coréia do Sul.

Segundo o “Índice de Desenvolvimento Democrático na América Latina” - um estudo da fundação alemã Konrad Adenauer - Chile, Costa Rica e Uruguai estão no topo da lista dos 18 países mais democráticos da região. Nicarágua, Venezuela, Bolívia e Equador estão no final da lista. O Brasil saltou da 12ª para a 8ª posição, um avanço em nossa democracia.

O estudo analisa o respeito aos direitos políticos, o exercício da cidadania e a eficiência de suas instituições públicas e políticas, entre outros aspectos. O “Índice de Desenvolvimento Democrático na América Latina” é publicado pela instituição desde 2002. A fundação Konrad Adenauer de ciências políticas é ligada ao partido da premiê alemã Angela Merkel.

Já no estudo realizado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), em 2004, o Chile não se encontra entre os países sul-americanos com maior Índice de Democracia Eleitoral (IDE). Dos 18 países analisados, o Chile ficou em antepenúltimo lugar, à frente apenas da Guatemala e da Colômbia. O cálculo do IDE se baseou nos graus de participação da população, de interferência nos resultados das urnas, como fraudes, compra de votos, intimidações, graus de liberdade de candidaturas e de alternativas de voto e de importância do voto no acesso a cargos públicos.

Conforme o Artigo de Marta Lagos, publicado em 1997, no Journal of Democracy, da Johns Hopkins University Press, com a restauração da democracia em 1990 (depois de17 anos de ditadura), o Chile passou por um período de crise na economia, onde a privatização criou um estrato muito poderoso de empresários que hoje têm mais poder que os partidos, que supostamente os representam. Problemas ambientais e monopólios estão entre as conseqüências dessa herança.

Democracia Chile-Brasil
Em abril deste ano, um mês após assumir a Presidência do Chile, Michelle Bachelet esteve em Brasília para encontrar-se com o presidente Lula. Ela destacou a importância da democracia e do combate à pobreza na região. Para o professor de ciências políticas Guillermo Holzman, da Universidade do Chile, o Brasil e o Chile são o ponto de equilíbrio numa região onde os novos representantes são vistos com uma certa desconfiança no cenário internacional, considerados “outsiders” da política (dica-se de passagem, Evo Morales e Hugo Chavez). A presidente Bachelet quer intensificar a cláusula democrática do Mercosul para evitar crises entre os países, uma vez que as ações do bloco fogem da política tradicional. O chamado Mercosul ampliado inclui Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e Venezuela, além do Chile e da Bolívia.

Dois lados da moeda
Todos estes dados, estudos e índices, ao mesmo tempo que nos apresentam informações sobre a atual situação da democracia no Chile, também trazem à tona uma série de questões ainda a serem descobertas: Está a democracia chilena atuando apenas em alguns setores da sociedade ou será que ela age em sua plenitude? Os dados são contraditórios. O país tem baixas taxas de corrupção, boa escolaridade para os níveis sul-americanos e uma atividade econômica relativamente estável. Mesmo assim, o Chile é considerado o país mais neo-liberal da América do Sul, mesmo elegendo consecutivamente quatro presidentes de centro-esquerda, além disso, o país atinge um dos piores índices de democracia eleitoral no continente, mostrando que ainda há muito o que fazer.
Um breve histórico do Chile

A capital Santiago foi fundada em 1541 e a proclamação da República do Chile ocorreu no dia 12 de fevereiro de 1818.

Durante o século XX, o general Carlos Ibáñez del Campo, foi ditador do Chile entre 1927 e 1931, e retornou à presidência em 1953, após as presidências do Partido Radical (1938-1952). Jorge Alessandri sucedeu Ibáñez em 1958, derrotando o socialista Salvador Allende por uma estreita margem de votos.

Em 1964 as eleições presidenciais deram vitória ao fundador do Partido Democrata Cristão, Eduardo Frei Montalva, que venceu o socialista Salvador Allende e o radical Julio Durán. O novo presidente implantou reformas sociais e econômicas, incluindo medidas no sistema educacional, habitação, sindicalização dos trabalhadores rurais e a reforma agrária. Mesmo assim, a esquerda mais radical não estava satisfeita e queria medidas mais fortes no campo social. Ao mesmo tempo, os conservadores achavam as reformas de Frei muito aventureiras.
Em 1970, Salvador Allende é eleito. Em 11 de setembro de 1973, Salvador Allende sofre um golpe de estado. Quem assume é o general Augusto Pinochet, instaurando a ditadura. Pinochet se manteve no poder até 1990.

O primeiro presidente da nova fase democrática chilena foi Patricio Aylwin, proeminente membro do Partido Democrata Cristão (PDC). Em 1994, elegeu-se Eduardo Frei Ruiz-Tagle, filho do ex-presidente Eduardo Frei Montalva e também filiado ao PDC. Em 2000 Ruiz-Tagle passou a faixa ao socialista Ricardo Lagos.

Em 2005, foi a vez de Michelle Bachelet eleger-se presidente. A primeira mulher no cargo é filha de uma vítima do regime de Augusto Pinochet. O país mantém seus governos de centro-esquerda desde a redemocratização.


Fontes: BBC Brasil; Wikipédia; Foreign Policy; Estadão; Clarín; PNUD-ONU; Opinião Pública; Rede Interamericana para a Democracia.

segunda-feira, outubro 02, 2006

União à portuguesa


Por Brenno Sarques
A Associação de Secretários-Gerais dos Parlamentos de Língua Portuguesa (ASG-PLP) tem está sob nova liderança. A Angola assumiu a presidência da Associação, na última sexta-feira, dia 29 de setembro, durante o VII encontro da instituição, realizado em Brasília. A indicação da Angola foi consenso entre todos os integrantes da Associação, que tinha justamente o Brasil na direção dos trabalhos desde julho de 2005.

A ASG-PLP é formada por secretários gerais ou líderes dos parlamentos de Angola, Cabo Verde, Guiné Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste, além dos representantes do Senado e da Câmara dos Deputados do Brasil. O órgão tem a incumbência de definir e orientar a política geral e as estratégias da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa; adotar instrumentos jurídicos necessários para a implementação dos presentes Estatutos podendo, no entanto, delegar estes poderes no Conselho de Ministros; criar instituições necessárias ao bom funcionamento da CPLP; eleger entre os seus membros um presidente a cada dois anos e eleger o Secretário Executivo da CPLP.

Para o deputado angolano Diogo de Jesus este encontro tratou das avaliações sobre os avanços das relações inter-parlamentares da CPLP. Os representantes buscaram também adequar os seus estatutos à realidade de cada Estado membro e ao atual momento político por que passam.

A importância da comunicação social entre parlamento e sociedade foi o foco das discussões. Os participantes concluíram que "não há atividade parlamentar sem comunicação, pois esta confere visibilidade às casas dos povos". Outro ponto abordado foi a estrutura e o funcionamento da Consultoria Legislativa do Parlamento Brasileiro, o que pode ser copiado pelos outros países-membros.

A ASG-PLP promove a cooperação técnica dos parlamentos da CPLP, desenvolvendo ações para o aprofundamento das relações entre os membros da Comunidade e o desenvolvimento das instituições públicas de língua portuguesa. A Associação reúne-se ordinariamente uma vez por ano, podendo ser convocada sempre que entendida útil.

A Comunidade da Língua Portuguesa

Foi em São Luís do Maranhão onde se deu o primeiro passo para a criação da CPLP, em Novembro de 1989, durante o primeiro encontro dos Chefes de Estado e de Governo dos países de Língua Portuguesa. Lá estavam, a convite do então Presidente brasileiro José Sarney, líderes de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe. Na ocasião, criou-se o Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP), que promove e divulga o idioma.

A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa foi criada pela herança histórica, pelo idioma e por uma visão comum do desenvolvimento e da democracia. A primeira menção à criação da Comunidade foi feita em 1983, durante uma visita oficial do então ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, Jaime Gama a Cabo Verde. O ministro afirmou que o processo mais adequado para tornar consistente o diálogo dos sete países de língua portuguesa espalhados pela África, Europa e América seria criar um órgão onde a direção fosse rotativa entre os estados participantes. A comunidade deveria promover encontros anuais de Ministros de Negócios Estrangeiros, efetivar consultas políticas freqüentes entre diretores políticos e encontros regulares de representantes na ONU ou em outras organizações internacionais, bem como avançar com a constituição de um grupo de língua portuguesa no seio da União Interparlamentar.

Em Fevereiro de 1994, os sete ministros dos Negócios Estrangeiros e das Relações Exteriores, reunidos pela segunda vez, em Brasília, recomendaram aos seus Governos a realização de uma reunião de Chefes de Estado e de Governo para a constituição da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. Os ministros voltaram a reunir-se em Junho de 1995, em Lisboa, reiterando os compromissos assumidos na reunião de Brasília.

Em 17 de Julho de 1996, durante o encontro de Chefes de Estado e de Governo, em Lisboa, criou-se a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, reunindo Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe. Em 20 de Maio de 2002, seis anos mais tarde, com a conquista de sua independência, o Timor-Leste tornou-se o oitavo país membro da Comunidade.

A CPLP está em 4 Continentes e engloba 230 milhões de pessoas. É a ampliação e o fortalecimento cooperação Portugal-Brasil que, a partir de meados da década de 1970, passaram a atingir as novas nações de língua portuguesa.

Ações da Comunidade
A CPLP tem o propósito de projetar e consolidar, no plano externo, os especiais laços de amizade entre os países de língua portuguesa, oferecendo maior capacidade para defender seus valores e interesses, galgados na defesa da democracia, na promoção do desenvolvimento e na criação de um ambiente internacional mais equilibrado e pacífico. A Comunidade trabalha também a cooperação social, cultural e econômica. Para tal, mobiliza esforços e recursos, criando novos mecanismos e dinamizando os já existentes para ações voltadas para setores como saúde, educação, ciência e tecnologia, defesa, agricultura, administração pública, comunicações, justiça, segurança pública, cultura, desporto e comunicação social.

A CPLP se insere no contexto das organizações internacionais, o que ajuda a angariar recursos e dar visibilidade às suas diretrizes. Nas negociações internacionais de caráter político e econômico, a Comunidade tem se firmado como um fator capaz de fortalecer o potencial de negociação de cada um de seus Estados membros.

Para fazer jus ao idioma comum, destaca-se o papel exercido pelo Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP), sediado em Cabo Verde, assim como pelo Secretariado Executivo da CPLP, que desenvolveu uma rede de parcerias voltadas para o lançamento de novas iniciativas nas áreas da promoção e difusão da língua portuguesa.

Fontes: Angop, Angonotícias e CPLP