segunda-feira, julho 17, 2006

Israel e Líbano: Focos da discórdia


Por Brenno Sarques


Todos os esforços, as negociações e a esperança de grande parte da população mundial em um cessar-fogo definitivo no Oriente Médio parecem ter ido por água abaixo. Israel, em sua sanha de controle total na região, passa a atacar desproporcionalmente o Líbano, atingindo diretamente a capital Beirute e fazendo vítimas completamente inocentes.

Até agora, são mais de 170 civis mortos no Líbano, vítimas diretas da truculência israelense. Deste total, uma família de brasileiros que simplesmente visitava o país atacado, não vai mais voltar para casa. Há também sete canadenses mortos por mísseis judeus.

Tudo começou com o seqüestro do soldado israelense Gilad Shalit, em 25 de junho, pelos Comitês Populares da Resistência, o braço armado do Hamas e um grupo denominado Exército Islâmico. O Hamas, grupo terrorista que, por incrível que pareça, foi eleito democraticamente para governar a Palestina (não se espante, fatos como este já ocorreram por exemplo, em Moçambique, onde grupos armados, saíram da guerrilha e se tornaram partidos políticos. O mesmo acontece na Europa, com o IRA), afirmou que a única forma para a libertação do soldado é a troca por prisioneiros palestinos.

Não deu outra, a retaliação judaica foi uma chuva de bombas sobre a Faixa de Gaza, o que resultou na morte de dezenas de civis palestinos. A chuva continua, e o número de vítimas aumenta. Israel esquece que está cercado de muçulmanos, povo tão unido pela religião quanto os próprios judeus. Não tardou para que o Hezbollah, grupo armado libanês, entrasse na causa e seqüestrasse mais dois soldados de Israel.

Demonstração de Força

Após o seqüestro de mais dois soldados, a primeira ação do primeiro ministro israelense Ehud Olmert foi enviar seis mil homens para a fronteira com o Líbano, no norte de Israel. Logo que chegaram, um intenso combate com as forças do Hezbollah tomou conta do lugar. Daí para frente, o que se vê são mísseis israelenses voando para um lado, e foguetes libaneses para o outro.

Atacar o Líbano não é tão fácil quanto atacar a Faixa de Gaza. A situação econômica e militar libanesa é, de longe, melhor do que a Palestina, que não se constitui como um Estado de fato, apenas de direito. Daí a força demonstrada pelo Hezbollah, com o lançamento de dezenas de foguetes sobre a cidade de Haifa e a morte de judeus. Outro ponto que pode complicar os planos israelenses é o apoio que o Irã e a Síria oferecem a qualquer grupo contrário à causa judia, mesmo que não haja provas do envolvimento destes dois países no conflito. De toda forma, o poderio bélico israelense é largamente maior do que de todos os países islâmicos. Vale lembrar que Israel possui a bomba atômica, e, com certeza, podem usá-la caso os muçulmanos se unam na Jihad islâmica, a “guerra santa”.

O mundo está atento

A comunidade internacional não concorda com o seqüestro dos soldados judeus, mas repudia claramente a violenta resposta dada por Israel. Os seqüestros são atos exclusivamente militares, e Israel respondeu com ataques diretos às populações civis, que não tinham como se defender, tampouco esperavam que mísseis caíssem sobre suas cabeças. Israel acaba de cometer mais um crime de guerra que, pelo que tudo indica, vai passar impunemente.

O Conselho de Segurança da ONU tentou aprovar medidas para um cessar-fogo, mas, como sempre, os Estados-Unidos vetaram. Os red-necks sempre alegam que Israel está apenas “cumprindo seu direito de defesa”. O primeiro-ministro libanês, Fouad Siniora, foi claro ao afirmar que “Israel acusa os outros de terrorismo, mas faz prática de métodos ainda piores”. Siniora cita, por exemplo, a constante violação do espaço aéreo libanês pelos caças sionistas. Há também a ocupação das fazendas de Chebaa, território de 45km2 ao sul do Líbano, que continua a ser ocupado por judeus. O resultado é que as ações do Hezbollah são aprovadas pela maioria dos libaneses, que já não suportam mais serem invadidos sem poder se defender.

Em uma resolução adotada pelos ministros das relações exteriores dos países que compõem a Liga Árabe, consta “o apoio ao Líbano face à agressão”. Conforme o entendimento dos diplomatas, reunidos no Cairo, dia 15 de julho, Israel deve compensar o Líbano pelos danos causados. Os países árabes querem um cessar-fogo imediato e a determinação do governo libanês em respeitar as determinações da ONU e a ‘linha azul’ território que marca a fronteira entre os dois países em conflito.

Em outra resolução, a Liga denunciou os “crimes de guerra e os crimes contra a humanidade”, cometidos em Gaza. A Arábia Saudita, Jordânia, Egito, Kuwait, Bahreim, Iraque e Marrocos criticaram o seqüestro dos soldados pelo Hezbollah. Posição contrária à da Síria, Argélia, Sudão, Iêmen e Palestina, que aprovam a ação contra Israel.

A reunião do G8, em São Petersburgo, teve como um de seus pontos principais o conflito israelo-libanês. Os oito países mais poderosos do mundo afirmam que a “prioridade é criar condições para o fim da violência de uma maneira durável”. Para tal, faz-se necessário a liberação dos soldados judeus seqüestrados tanto em Gaza quanto no Líbano; o fim dos foguetes sobre Israel; o fim das operações militares israelenses e o recuo das tropas da Faixa de Gaza e a libertação dos ministros e deputados palestinos presos em Israel.

Proposta de Paz

Israel apresentou ao Líbano uma proposta para o fim das operações militares israelenses no território libanês. A proposta foi feita por intermédio da Itália, mas o governo libanês ainda não deu sua resposta. O ministro da Informação libanês, Ghazi al-Aridi, informou ontem que esta proposta tem duas condições: que o Hezbollah liberte os dois soldados israelenses capturados na quarta-feira passada e que recue suas milícias até o norte do rio Litani, acima das fazendas de Chebaa, no sudeste do Líbano.

Em entrevista coletiva após a reunião do governo libanês, Aridi não explicou se o governo tinha aceitado ou não as condições impostas pelo primeiro-ministro israelense, Ehud Olmert. Aridi disse que espera uma posição da ONU a respeito da situação. Além disso, ele acusou Israel de lançar uma “guerra genocida” contra o povo libanês e acrescentou que o Exército israelense está empregando “armas internacionalmente proibidas”, em alusão às bombas de fósforo que, segundo a imprensa libanesa, teriam sido lançadas ontem no sul do país.

O conselho de ministros do Líbano pediu que as escolas de todo o país sejam abertas para receber os refugiados que deixam as áreas bombardeadas por Israel. Aridi pediu às ONG’s que assumam sua responsabilidade “para aliviar o sofrimento do povo” e insistiu em que o governo central é o máximo responsável do país e quem negocia qualquer tema. O ministro louvou o papel do Exército libanês ao fazer frente às forças israelenses e convocou uma união nacional para enfrentar a situação que o país atravessa.

A ONU se prepara para o envio de uma força internacional ao sul do Líbano. O secretário-Geral das Nações Unidas, Kofi Annan, pediu uma trégua nos conflitos para que as forças de paz possam se instalar na região. “Nós devemos obter das partes envolvidas um acordo, o mais rápido possível, sobre o fim das hostilidades, para que tenhamos tempo e possamos trabalhar”, declarou Annan.

Conforme o primeiro-ministro britânico Tony Blair, as forças de estabilização da Onu devem contar com mais de 2000 homens. Para o seu homólogo italiano, Hermano Prodi, que já foi presidente da União Européia, a ONU deve enviar cerca de 8000 soldados. O presidente francês Jaques Chirac acredita que as forças da ONU tem mecanismos de coerção que devem ser usados para criar um “cordão de vigilância” no sul do Líbano.

Aos seres humanos, resta aguardar os próximos acontecimentos e atentar para quais ações os governantes mundiais vão tomar. Pelo que tudo indica o conflito no Oriente Médio está a cada dia mais longe do fim.

Fontes: Radio France Internationale, Agência EFE, Agência France-Presse, Le Monde e JB.