segunda-feira, julho 31, 2006

Raízes da Guerra

Por Brenno Sarques
Guerra dos Seis Dias, ampliação de seu território em 1967, ocupação do Líbano em 1982, incursões armadas em territórios vizinhos, invasão do espaço aéreo de países árabes, bombardeios em Beirute e na Faixa de Gaza. Israel não pára. Muita gente nasceu e vive ouvindo as notícias do Oriente Médio, em sua maioria, de guerra entre judeus e muçulmanos. Entretanto, poucos sabem as origens políticas, étnicas e religiosas desse conflito que parece sempre ter existido, e que não acaba nunca.

Muitos estudiosos jogam a culpa da prepotência judaica no movimento sionista, a mais forte ideologia política israelense. Até mesmo judeus não sionistas creditam o constante clima de tensão e guerra com os árabes ao sionismo. Tanto o é que, no próprio coração de Israel a condenação aos ataques ao Líbano tomou as ruas, em uma manifestação que, segundo os organizadores, reuniu cerca de 5 mil manifestantes na capital Tel Aviv, no sábado, 22 de julho. Segundo o jornal local Haaretz, o protesto teve, além da “exigência de demissão do primeiro-ministro e do ministro da Defesa”, um claro caráter antisionista e antiamericano. Junto às palavras de ordem “nós não vamos matar, nós não vamos morrer em nome do sionismo”, os manifestantes também repetiam “nós não vamos matar, nós não vamos morrer a serviço dos EUA”.

Sionismo
Politicamente fundado em 1897, o sionismo era formado por uma variedade de opiniões sobre em que terra é que a nação judaica deveria ser fundada, sendo cogitado de início estabelecê-la em Chipre, na Argentina e até no Congo, entre outros locais. A chamada diáspora judaica, ou seja a dispersão dos judeus pelo mundo, erroneamente debitada como a expulsão da terra natal, foi o principal argumento de ordem religiosa a reivindicar o estabelecimento da pátria judaica na Palestina.

O argumento da expulsão é contestado até por parte de sionistas, por que não coincide com os registros históricos que dão como certo que, muito antes das deportações romanas, a grande maioria do povo judeu já havia se helenizado e migrado espontaneamente. De qualquer modo, a tese do retorno à “terra prometida” caiu nas graças da maioria dos judeus.

A partir de 1917 o movimento definiu o estabelecimento de um estado na Palestina, a localização do antigo Reino de Israel. Todavia, a região da Palestina já era habitada por uma população de esmagadora maioria de árabe, que migrou para lá por volta do ano de 350 e que perdurou e floresceu por mais de 400 anos durante as dinastias árabes Omanida, Abássida e Fatímida.

Sendo assim, para estabelecer o estado judeu desejado, os sionistas teriam de fazer um grande esforço para mudar o equilíbrio étnico e demográfico da região mesmo porque o projeto do estado judaico se baseava nas utopias religiosas e culturais exclusivas e definidas do povo judeu. Aí é que o problema se agrava.

O começo da crise
É justamente neste esforço para a mudança do equilíbrio demográfico da Palestina que os críticos do sionismo vêem a doutrina como condenável. Não apenas pela violência implementada, mas também pela “distinção racial” em que doutrinariamente se funda, sendo, assim, o sionismo considerado uma forma de racismo.

A professora da Universidade de Brasília, Sonia Bloomfield Ramagem, contesta a ligação entre sionismo e racismo, restringindo o vocábulo ao movimento nacionalista para o estabelecimento de uma nação judaica no mesmo local onde viveram os ancestrais do povo judeu.

Os defensores do sionismo alegam que a doutrina não é unificada e coesa, possuindo diversas versões divergentes umas das outras. Outros discordam afirmando que palestinos e judeus não são racialmente distintos, e assim não se aplicaria o termo ‘racista’.

Enquanto se ateve ao seu objetivo primordial, que era o estabelecimento de uma pátria judaica, o sionismo sempre foi bem visto pelos organismos internacionais, tanto que a Liga das Nações (Mandato de 1922) quanto a ONU aprovaram os princípios básicos do sionismo, aliás extensível a qualquer povo da terra.

Todavia, quando chegou a hora de estabelecer o Estado de Israel, e colocar em prática os ideais sionistas, estes impuseram uma realidade conflituosa e lesiva, tanto que, em novembro de 1975, com a violência transbordando, a Assembléia Geral das Nações Unidas aprovou a resolução nº 3379 que contém uma sonora censura : “O sionismo é uma forma de racismo e discriminação racial” que perdurou até dezembro de 1991 quando, pelo colapso da União Soviética, uma dos seus defensores, acabou rescindida através da Resolução 4686.


O Estado de Israel
Na segunda metade do século XIX, iniciou-se uma migração de retorno de judeus para a região. Assim “Mikveh Israel” foi fundada em 1870 através de Aliança Israelita Universelle, seguida por Petah Tikva (1878), Rishon LeZion (1882), e outras comunidades agrícolas fundadas pelas sociedades Bilu e Hovevei Zion.

Em 1897, o Primeiro Congresso Sionista decidiu restabelecer pátria judia antiga em Eretz Yisrael. Naquele momento, a Palestina era uma parte do Império Turco Otomano. Isto fez o sionismo diferente da maioria dos outros nacionalismos, porque seus proponentes reivindicavam para a etnia um território que, na sua vasta maioria não era por eles habitada.

A Inglaterra apoiou o sionismo com a Declaração de Balfour, colocado em prática porque a rainha possuía o mandato sobre a região do Império Otomano, que havia perdido seus territórios em conseqüência da Primeira Guerra Mundial. Foi o início de um aumento substancial da migração de judeus para lá elevando por duas décadas até 1945.

Em 1947, ao fim do mandato britânico, a violência mútua e descontentamento entre árabes e judeus era gritante. Para reverter tal situação, a ONU propôs e foi aceito um Plano de Partilha da Palestina, para a formação de dois estados, concedendo 55% da terra para o estado judeu e o restante ao estado árabe.

A representação judaica aceitou o plano, mas a representação árabe não. Sentindo-se prejudicada e espoliada, ao não aceitar a divisão, têm início os conflitos. No dia 14 de maio de 1948, expirado o mandato britânico da Palestina, o Estado de Israel declarou independência, deflagrando a chamada Guerra dos seis dias na qual seis estados árabes vizinhos iniciaram movimentos de exércitos regulares para ingressar na região. De lá pra cá, o que vemos é o massacre de árabes sob o pretexto de “guerra santa”, renovado para “guerra contra o terror”.

Recrudescimento
Pelo que parece, os últimos governantes de Israel decidiram pegar pesado com os árabes. Para o respeitado analista político da esquerda israelense, o escritor Michael Warshawski, numa Guerra, a existência de prisioneiros de guerra é natural. No passado, Israel estava aberto à troca de prisioneiros. “Agora a arrogância israelense é tão grande que eles têm reais dificuldades para não fazer o óbvio, que seria soltar prisioneiros palestinos e libaneses em troca dos três soldados israelenses nas mãos do Hezbollah e do comando palestino. De fato, no momento eles estão prontos a sacrificar seus próprios prisioneiros de guerra para não se comprometer com ‘terroristas’”, critica.

Warshawski afirma que o movimento pacifista judeu tem crescido durante esta última incursão do exército israelense no Líbano. “Não mais de 5% da população judia de Israel se opôs à guerra na primeira semana. No entanto, parece que mais e mais pessoas estão se perguntando: por quanto tempo? O que é o objetivo concreto desta guerra? etc”. Para o escritor, o movimento pacifista tem que explicar que esta guerra nada tem a ver com a segurança de Israel ou com os prisioneiros de guerra, e que a sua ideologia é suicida: uma guerra interminável com o Islã e com todo o mundo árabe, o que poderá ser o fim de Israel.

Fontes: Revista Espaço Acadêmico, revista Carta Maior, sites Panorama Internacional e Rádio Islam (http://www.panoramainternacional.com/; www.radioislam.org)

2 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Massa a matéria Camarão

12:09 AM

 
Blogger Brenno Sarques said...

Valeu cara, apesar de o camarão aqui ser vc hehehehee

10:07 AM

 

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