segunda-feira, agosto 14, 2006

O que será de Fidel?


Por Brenno Sarques

A reaparição de Fidel Castro no dia de seu aniversário, depois de duas semanas de internação que deixaram a ilha de Cuba em Alerta e despertou a esperança de milhares de cubanos espalhados pelo mundo. Castro reapareceu em público, em 13 de agosto, com a mensagem que seu estado de saúde vai bem, resguardada a situação de velhice. Fidel agradeceu a preocupação dos cubanos e alertou que sua vida ainda corre risco. Os cubanos acordaram com as primeiras fotos de Fidel depois que o governante passou seus poderes ao irmão mais novo pela primeira vez em mais de 47 anos no poder. A causa foi a chamada intervenção cirúrgica no intestino, devido a uma hemorragia, dia 31 de julho.

Raúl Castro, o caçula, não apareceu em público desde que se tornou o novo, e provisório, governante de Cuba. Em trajes esportivos Fidel posou para fotos falando ao telefone e mostrando um exemplar do suplemento especial publicado pelo jornal Granma, entitulado “Absolvidos pela História”.

Conforme a publicação das fotos pelo diário Juventude Rebelde, o período de recuperação será curto e que o retorno de Fidel ao poder é inevitável. O comandante de Cuba retificou que o país “caminha e continua muito bem”, enquanto comandado por Raul Castro.

Como pólvora nas ruas de Havana, as notícias da mensagem Fidel se espalharam, e os quiosques foram preenchidos de um público ávido para ler novidades sobre Castro. "É a confirmação que todo o povo pensava: que o nosso comandante chefe está recuperado e que, em breve, dirigirá de novo o país", disse Berta, sexagenária de Havana.

Chávez
A ausência pública de Raul Castro era outra incógnita para os cubanos. A televisão cubana mostrou as primeiras imagens do atual presidente, que recebeu no aeroporto de Havana o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, principal parceiro comercial e político da ilha. Durante alguns segundos pôde-se ver os dois chefes de Estado derretidos em um abraço, sob o olhar cuidadoso de Carlos Lage, Vice-Presidente cubano e um dos seis membros do novo gabinete de crise.

"Chávez veio à Havana para festejar o aniversário de 80 anos de seu irmão Fidel. Raúl o recebeu no aeroporto com o abraço de um povo que agradece a grandeza humana e a atitude solidária de um líder”, afirmou o jornal Granma, O presidente venezuelano foi o único chefe de Estado a visitar Fidel Castro, enquanto esteve hospitalizado.

Apoio
A população cubana parece estar ao lado de seu representante. As comemorações do octagésimo aniversário de Fidel se estendem até o dia 2 de dezembro, que coincide com o qüinquagésimo aniversário do desembarque Granma. Até lá, várias serão as homenagens populares ao comandante.

Na noite do dia 12, milhares de jovens se reuniram na Tribuna Imperialista José Martí para ouvir, durante mais de sete horas, a uma centena de músicos cubanos. O concerto foi prolongado até o amanhecer, para o do delírio de jovens como Yoerkis, um estudante de Havana: "viemos para apoiar ao comandante e para dizer ao mundo que nós, jovens cubanos, defenderemos todas as conquistas sociais da revolução", comemora.

Perto dele, Michael Parmly, chefe da Secção de Interesses dos Estados Unidos em Havana, parecia encantado com os trovadores cubanos. O diplomata americano foi ao recital pelo seu "interesse em Cuba e na sua cultura", como assegurou uma fonte da representação. Enquanto a Havana respirava a mesma tranqüilidade das últimas duas semanas, mais de 100.000 empregados do setor açucareiro foram mobilizados com enxadas em mão nos canaviais, em solidariedade a Castro.

Na fábrica Abraham Lincoln, em Artemisa, perto do capital cubana, o ministro do Açúcar, general Ulises Rosales do Touro, referiu-se à sucessão de Cuba: "após Fidel, Raúl é o homem que tem todas as condições para dirigir os destinos desta pátria ao lado Fidel e quando ele Fidel não esteja no comando do partido", declarou. Em termos semelhantes pronunciaram-se os trabalhadores que limpavam o terreno para a sementeira. Para Ramón Gonzalez, de 69 anos, com o dia de trabalho voluntário lançou-se "um desejo de recuperação de Fidel e uma amostra de apoio ao governo Raúl", conclui.

Guerra de informações
Em Cuba, o que se vê é uma verdadeira batalha pelo controle da opinião pública, seja por parte do governo, seja pelo lado norte-americano. Visto o rigor do controle governamental sobre a mídia escrita, radiofônica e televisiva, fica difícil ver “o outro lado da moeda”, principalmente para os cubanos, que passam a vida escutando a glorificação de um governo, sob a imagem de seu líder, e pouco têm como criticar.

Em contrapartida, redes de televisão norte-americanas especializadas em Cuba conseguem fazer com que suas transmissões cheguem à população cubana, e cometem o mesmo erro de seus oponentes: a parcialidade explícita. Assim como chega a ser ridículo a paixão colocada nos textos de jornais governistas cubanos, são ridículas as críticas, os comentários e as alusões feitas ao governo e governante cubano, por parte das TV’s de oposição.

A saída definitiva de Fidel Castro do comando de Cuba nunca foi tão cogitada quanto nestes últimos 15 dias. De toda forma, Fidel deixa claro que não vai ceder assim, tão facilmente. Muitos cubanos querem a mudança de regime, outros preferem deixar como está. A única verdade é a de que, sem Fidel, muita pode mudar.

Fontes: La Nación, Panorama Internacional e Diário Granma